terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dia do Senhor 03: Pela Graça de Deus é Que Miseráveis Pecadores Tornam-se Filhos de Deus

Leitura: Gênesis 3.1-15; Romanos 5.12-19     Pr. Alexandrino
Texto: Dia do Senhor 03                                 São José 01-02-2009; Recife 25-02-2009

Amada Igreja do Senhor Jesus Cristo.

Na primeira pergunta do domingo 1 nós confessamos que nosso “único conforto é que – corpo e alma, na vida e na morte – não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo”. Essa confissão mostra que o nosso conforto não está em nós mesmo e nem no mundo. Essa confissão mostra que nós não conseguimos – por mais que tentamos – encontrar descanso para nossa alma nos prazeres do mundo. Porque é em Cristo que descansa todas as promessas de Deus. Em Cristo nós temos nos assentados nos altos céus. Por causa da obra de Cristo nós temos conforto para o futuro. Em Cristo podemos descansar. Porque Ele nos comprou com seu sangue e por isso somos dEle.
Para descansarmos nesse único conforto precisamos reconhecer três coisas importantes em nossa vida. Primeiro: como são grandes nossos pecados e nossa miséria; segundo: como somos salvos de nossos pecados e de nossa miséria; e terceiro: como devemos ser gratos a Deus por tal salvação. Em primeiro lugar devemos reconhecer a nossa total miséria. Devemos reconhecer nosso estado pecaminoso. E foi isto que nós vimos domingo passado. Nós vimos que nós não conseguimos cumprir a lei de Deus como Ele requer de nós. Nós vivemos, por natureza, nos enganando a nós mesmos. Nos achamos bons o bastante porque fazermos alguma obra benevolente. Nos achamos bons quando nos comparamos com as outras pessoas e vemos que existem pessoas piores do que nós e dizemos: “não sou tão ruim assim”. Mas nós somos confrontados com o espelho da lei de Deus. Este espelho mostra quão perverso nós somos. Mostra que nós não conseguimos amar a Deus como Ele requer de nós e nem amar nosso próximo. Pelo contrário, a lei nos acusa dizendo que todos nós somos por natureza inclinados a odiar a Deus e a nosso próximo.  O homem é mau desde o seu nascimento. Não existe nada de bom no homem.
Irmãos, “mas Deus criou o homem tão mau e perverso?”. Essa é a pergunta que o catecismo faz no domingo 3. O catecismo no domingo 3 quer explicar como Deus criou o homem e como o homem se lançou em tal miséria; também quer mostrar como Deus é gracioso em desfazer as conseqüências da desobediência do homem. É sobre isso que quero pregar nesta manhã.
Por isso eu vos proclamo as boas novas do Senhor Jesus Cristo no seguinte tema:

Tema: Pela Graça de Deus é Que Miseráveis Pecadores Tornam-se Filhos de Deus.
1. A Nossa Criação é Uma Criação Gloriosa
2. A Terrível Profundidade da Nossa Queda
3. O Dom Gracioso da Nossa Restauração

1. A Nossa Criação é Uma Criação Gloriosa

Irmãos, o domingo 2 do Catecismo de Heidelberg na pergunta 5 diz que: “por natureza sou inclinado a odiar a Deus e a meu próximo”. O homem foi criado perverso? Foi criado impossibilitado de fazer qualquer bem? Para recebermos a resposta devemos olhar para o que as Escrituras dizem arrespeito da criação do homem.
Em Gênesis 1 nós podemos ler o relato da criação. Podemos ler sobre a grandiosa obra de Deus em criar todas as coisas. Vemos Ele criando a luz e fazendo separação entre a luz e as trevas; vemos Ele criando o céu; vemos Ele criando a terra e a água; vemos Ele fazendo a vegetação brotar na terra cada uma segundo a sua espécie; vemos Ele criando o sol, a lua e as estrelas; vemos Deus criando os animais terrestres, aquáticos e os que voam. No sexto diz Deus criou o homem. E logo após terminar a sua criação Deus diz em Gênesis 1.31: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Deus fez sua criação muito boa. Não existia nada de errado em sua criação. Nós podemos ver isto com as declarações do próprio Deus após cada dia que Ele criara algo. Ele mesmo diz que era muito bom tudo que criara. Deus criou o macaco, o gato, o leão, a cobra, etc e tudo era muito bom. Toda a criação de Deus era perfeita. Isto inclui o homem que é a coroa da sua criação. O catecismo diz que “Deus criou o homem bom e à sua imagem”. O catecismo não está inventando nada. Ele está apenas citando Gênesis 1.26-27 que diz: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.
Deus disse: haja luz e houve luz; haja céus e houve céus; haja terra seca e houve terra seca; “produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez” (Gn 1.11); haja luzeiros no firmamento dos céus. E assim se fez (Gn 1.14, 15); disse também Deus: “Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus” (Gn 1.20). E assim se fez; disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez (Gn 1.24).
Em toda criação Deus disse: haja isso e assim se fez. Mas na criação do homem foi diferente. Deus não disse haja o homem e assim se fez. Na criação do homem Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Nenhuma outra criatura fora criada a imagem e semelhança de Deus. Ser criado a imagem e semelhança de Deus não significa que o homem é um pequeno deus. Significa que o homem em tudo o que fazia refletia a imagem de Deus aqui na terra. Deus criou o homem e o colocou no jardim do Éden. Deus deu o jardim para que o homem morasse nele e o cultivasse. O jardim seria a casa do homem com Deus. Ele teria domínio sobre todas as criaturas. Ele governava o jardim em nome de Deus. E quando Deus olhava para o homem governando em perfeita justiça sobre todas as criaturas, significava que o homem estava sendo a imagem e semelhança de Deus. Nisto Deus estava vendo a sua própria imagem no homem. Porque o homem estava agindo conforme o seu reinado de justiça. Assim o homem mostrava a imagem de Deus em todos os seus atos, pensamentos e obras. Cumprindo fielmente seu oficio de profeta, sacerdote e rei. Foi para esta finalidade que Deus criara o homem. Por isso o catecismo diz: “Deus criou o homem bom e à sua imagem, isto é, em verdadeira justiça e santidade” (perg. 5).
Deus não criou o homem com o pecado e nem o criou para viver longe dele. Pelo contrário, Ele criou e dotou o homem com verdadeira justiça e santidade. Assim o homem se encontrava numa relação de perfeita comunhão com Seu Criador. Porque antes da queda, o homem dedicou sua vida 100% a Deus. Não existia no homem uma só tendência errada em seus atos e pensamentos. Por isso o catecismo faz questão de dizer que ele fora criado “em verdadeira justiça e santidade para conhecer corretamente a Deus, seu Criador, amá-Lo de todo o coração e viver com Ele em eterna felicidade, para louvá-Lo e glorificá-Lo”. O objetivo pelo qual Deus criou o homem foi conhecer CORRETAMENTE seu Criador. Ele deveria viver com Deus em plena comunhão de vida e paz. E isto era possível quando fora criado. Pois a exigência da lei é o amor a Deus acima de qualquer coisa. E no paraíso isso era possível. Pois Deus deu capacidade para o homem cumprir isto perfeitamente. Porque Deus deu seus dons ao homem. Esses dons o homem deveria desenvolver a cada dia mais e mais em direção a Deus. E não viver longe de Deus. O homem fora criado para morar com Deus no paraíso. É isso o que o nosso catecismo ensina. O homem fora criado para “conhecer corretamente a Deus, seu Criador, amá-Lo de todo o coração e viver com Ele em eterna felicidade, para louvá-Lo e glorificá-Lo”.
O catecismo diz que o homem fora criado para conhecer a Deus perfeitamente; para amá-Lo de todo coração; para viver com Ele em terna felicidade; louvá-Lo e glorificá-Lo. Isso mostra que o homem é a coroa da criação de Deus. Ele fora criado para viver com Deus. Nós fomos criados para conhecermos a Ele corretamente. Não como o mundo, mas conforme as sagradas Escrituras nos revelam. Fomos criados para vivermos com Deus. Nós fomos feitos para amar nosso Criador. Isso torna nossa criação gloriosa.
Mas infelizmente o homem não permaneceu em seu estado original. E isso nos leva ao segundo ponto.

2. A Terrível Profundidade da Nossa Queda

Amados irmãos, o homem fora criado em verdadeira justiça e santidade para conhecer corretamente a Deus, seu Criador, amá-Lo de todo o coração e viver com Ele em eterna felicidade, para louvá-Lo e glorificá-Lo. Porém, o que nós vemos na humanidade é o pecado. Pessoas corruptas por natureza. Sem afeição nem amor; sem paz com Deus e seu próximo; sem comunhão com o Deus da vida. Vemos a humanidade lançada numa miséria desenfreada.
Mas de onde vem, então, essa natureza corrompida do homem? O nosso catecismo diz: “Da queda e desobediência de nossos primeiros pais, Adão e Eva, no paraíso. Ali, nossa natureza tornou-se tão envenenada, que todos nós somos concebidos e nascidos em pecado”. Ele aponta para as Sagradas Escrituras que relatam a queda do homem em pecado. Em Gênesis 3 nós encontramos um relato muito triste da queda e desobediência do homem no paraíso. Nós vemos o homem se rebelando contra Deus. Nossa miséria vem da desobediência de Adão e Eva no paraíso.
Deus havia dado seus dons ao homem para servi-Lo com amor. Mas ele não colocou os seus dons concedidos por Deus a serviço do seu Criador. Antes preferiu usar seus dons a serviço de satanás. O homem fez uma aliança com Satanás e tornou-se seu súdito. Desprezando a Deus e seus dons. Ele se lançou numa tentativa frustrada de ser igual a Deus. Porém, se tornou um inimigo de Deus por natureza. A comunhão com Deus foi quebra e desapareceu. O homem não pode mais refletir a imagem de Deus. Pois em lugar de justiça há agora injustiça na vida do homem. Em vez de buscar o bem busca o mal. Em vez de servir a Deus serve ao diabo. Em vez de ter Deus como pai tem agora o diabo como pai.
O catecismo diz que “ali, – no paraíso – nossa natureza tornou-se tão envenenada, que todos nós somos concebidos e nascidos em pecado”. O catecismo diz que nossa natureza tornou-se envenenada. Isso mostra a profundidade da queda dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Esse mal não pode ser removido com um remédio que podemos comprar na farmácia. É algo que afeta todo o nosso ser. Essa foi a herança que nossos pais deixaram para nós. Uma herança de morte e destruição eterna. Pois todas as partes de nossa natureza foram corrompidas. Não existe nada de bom em nós. Já no ventre da nossa mãe somos miseráveis pecadores, como diz o Salmo 51.5: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe”.
Em Gênesis 6.5 diz: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”. E em Gênesis 8.21 diz: “é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade”. Em Romanos 3.10-11 diz: “não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”. Em Romanos 8.7 diz que o “pendor (literalmente, a mente ou o entendimento) da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à Lei de Deus, nem mesmo pode estar”. O homem natural está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1). A morte que não era uma realidade na vida do homem antes da queda tornou-se uma terrível realidade que ele não pode fugir. Pela sua desobediência o homem cortou sua ligação de vida com o SENHOR. Pois ter vida é estar em ligação com Deus. Mas o homem perdeu esta ligação quando pecou. Pois o pecado é a separação de Deus com o homem. O pecado quebrou esta ligação de vida entre o homem e Deus. Por causa disso todos nós somos destinados a morte. Essa é uma das conseqüências do pecado na vida do homem.
Após a queda no pecado, todas as partes do homem foram corrompidas. Não existe nenhuma parte saudável na natureza humana. O pecado afetou corpo, mente e coração. O homem peca por pensamentos, palavras e atos. A sua vontade não é mais de agradar a seu Criador, mas de odiá-lo. Todos buscam seus próprios interesses. Todos buscam satisfazer seus desejos carnais.
Por causa disso não há temor de Deus na vida do pecador. Não há comunhão com Deus. Não há paz com Deus. O homem por natureza foge de Deus. E a conseqüência é morte e destruição na vida do homem. Por natureza somos inclinados a odiar a Deus e a nosso próximo. Por natureza somos destinados ao fogo eterno.
Mas é nesse momento que nós vemos a graça de Deus na vida de pecadores miseráveis como nós. E isso nos leva ao terceiro ponto da pregação.

3. O Dom Gracioso da Nossa Restauração

Amados irmãos, Deus nos criou em uma posição especial entre todas as criaturas. Ele nos deu dons maravilhosos, como: sua justiça e santidade. Ele nos criou como a coroa da sua criação. Ele nos criou para conhecê-lo e viver com Ele em eterna alegria para todo sempre. Porém, em Adão nós jogamos fora todos esses dons maravilhosos recebidos de Deus. Como diz Romanos 5.12: “... por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. Nós desprezamos a aliança com nosso Criador e fizemos uma aliança com satanás. Nos tornamos servos de satanás. O resultado é que não conseguimos fazer bem algum e ainda somos inclinados para todo mal. Tudo o que existe em nós estar enfermo. Tudo o que o homem faz depois da queda é contra Deus. Ele odeia a Deus.
Então, como podemos descansar no único fundamento que é Jesus Cristo? Como podemos desfrutar da graça de Deus, se nós jogamos fora todos os dons que recebemos dEle? O que é preciso para viver e morrer no único fundamento que fala o domingo 1 do Catecismo? Se dependesse de nós nunca iríamos desfrutar desse conforto. Porém, Deus em Cristo nos fez dEle novamente. A Confissão Belga no artigo 17 diz:
Cremos que nosso bom Deus, vendo que o homem havia se lançado assim na morte corporal e espiritual e se havia feito totalmente miserável, foi pessoalmente em busca do homem, quando este, tremendo, fugia de sua presença. Assim Deus mostrou sua maravilhosa sabedoria e bondade. Ele confortou o homem com a promessa de lhe dar seu Filho, que nasceria de uma mulher (Gl 4.4) a fim de esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15) e de tornar feliz o homem”.
Deus em Cristo nos restaura a posição de filhos amados. Pelo seu Espírito Ele nos renova a cada dia a sua imagem. Efésios 4.24 diz: “e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”. Pelo poder do Espírito Santo somos transformados dia após dia a imagem do homem antes da queda. O novo homem é criado segundo Deus e não segundo o mundo. Esse novo homem renovado é cheio de justiça e retidão. Porque vem de Deus. Esse é o dom gracioso da restauração de Deus na vida de pecadores como nós.
E qual a conseqüência disso para nossa vida? Romanos 8.14-15 diz: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”. Um homem ou mulher renovado ou nascido no poder do Espírito Santo não vive em pecado. Por isso 1 Coríntios 12.3 diz que: “... ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo”. O novo homem ou mulher é guiado pelo Espírito Santo durante toda a sua vida. Essa é uma das conseqüências de ser restaurado a posição de filho de Deus. Nós nos tornamos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Isso é maravilhoso demais para nós miseráveis pecadores. Por causa desse dom gracioso de Deus em nos restaurar, somos consolados em Cristo Jesus. Porque sabemos que fomos, em Cristo, desfrutamos ao máximo das bênçãos de Deus.

Amém.